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«Podemos fazer alguma coisa num formato diferente, até para dar alguma esperança aos miúdos»

Manuel Machado, Presidente da AF Braga, não descarta a hipótese da formação voltar a competir durante esta época, num formato diferente do que estava previsto para a prova extraordinária de sub-20.
Pode ler a entrevista completa na edição de Março.

 

Isto foi um terramoto no desporto de formação?
Na época de 2019/20, na Associação de Futebol de Braga (AFB) tínhamos cerca de 21 mil atletas federados, perto de 17 mil da formação. Neste momento, temos 4.900 atletas. A FPF apostou forte no projecto “Crescer 2020” para fazer a certificação de clubes formadores e várias outras vertentes, nomeadamente na área da gestão e da comunicação.
Os 187 mil atletas que tinha na formação ficaram reduzidos para um terço. A formação tem sido a mais prejudicada e com graves consequências para o futuro. Não haver competição na formação vai trazer consequência para o futebol profissional e também para a Selecção Nacional, mas não só no aspecto de prejudicar a jusante do futebol profissional e das selecções, mas também no estado de saúde dos jovens atletas. É uma questão de sanidade mental.

Ficou sem efeito a prova extraordinária de sub-20?
Estamos em permanente contacto com a Federação, que está interessada em fazer alguma coisa. Se o contexto da pandemia nos deixar, em Abril ou Maio, podemos fazer alguma coisa num formato diferente, até para dar alguma esperança aos miúdos, dizendo-lhes que não nos esquecemos deles. No entanto, isso não depende nem da FPF, nem da AFB, nem do Governo, mas sim da Direcção-Geral de Saúde (DGS).


E quanto às competições seniores?

Os números estão a baixar e o que se prevê é que a retoma das competições seniores seja feita a partir do início de Abril. Se nos permitirem começar a treinar em meados de Março, temos depois dois meses para jogar. O quadro competitivo contemplava duas voltas e uma segunda fase na Honra e Pró-Nacional para apuramento de campeões e descida de divisão. Se for possível retomar os campeonatos – e eu acredito que sim – devemos terminar ao fim da primeira volta. No entanto, se o tempo o permitir iremos procurar outras soluções que satisfaçam os clubes.

Tem consciência que isso vai provocar descontentamento nos clubes?
Neste momento qualquer medida será bem aceite por uns e mal por outros. Quem estiver lá em cima vai aceitar bem, quem estiver cá em baixo vai dizer que se houvesse segunda volta podia reverter a situação, mas é o que é. Não podemos alongar o campeonato, não dá para fazer duas voltas. Os dois primeiros de cada série da Pró-Nacional, provavelmente, vão fazer um ou dois jogos para saber quem vai ser campeão e subir aos Nacionais.  Mas primeiro temos de informar os clubes da decisão que tomarmos. É evidente que alguns ficarão satisfeitos e outros não.

Muitos clubes dizem que era preferível a época nem ter arrancado. Isso era possível?
Iniciámos as competições numa perspectiva que em Outubro estaríamos melhor do que em Março e foi o contrário. Aliás, alguns clubes só queriam começar em Janeiro, então é que não arrancavam os campeonatos. Não podíamos fazer isso, até porque a maioria dos clubes aceitou, apenas meia dúzia não quis participar e está no seu direito.

E anular os campeonatos desta época?
E como iríamos depois indicar o clube para o Campeonato de Portugal? Deitávamos os papéis ao ar? Penso que as maiores associações vão fazer o mesmo, ou seja, apenas uma volta. As outras com menos clubes devem ter tempo para fazer duas voltas. Nós se tivermos tempo também iremos tentar arranjar uma solução melhor.  A AFB é a segunda maior associação do país, ultrapassou Lisboa e certamente que devem subir mais clubes, como aconteceu na época passada com as subidas do Pevidém, Brito e Vilaverdense.  Alguma vez viu jogar a Liga dos Campeões nos moldes do ano passado? Para situações difíceis, decisões difíceis.

Os clubes também se queixam de ter poucos apoios.
Nos seniores não pagaram taxa de filiação, só aí foram 70 mil euros. Baixámos 40% nas inscrições, na formação só iriam pagar 40%, baixámos 20 euros as taxas de organização, distribuímos máscaras, temos facilitado os pagamentos, temos muitas coisas penduradas porque sabemos das dificuldades dos clubes. Fizemos mais do que muitas associações com mais possibilidades do que nós e estamos disponíveis para apoiar mais, se pudermos, claro.