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«Começa a faltar adrenalina dos jogos, o cheiro da relva, as brincadeiras no balneário…»

Cesário Carmo, 30 anos, médio ofensivo, chegou ao GD Joane há quatro anos e tem sido um peça influente no xadrez da equipa famalicense. O jogador, que também já representou clubes como o Famalicão, Celeirós e Ninense, destacou a qualidade do plantel que, na sua opinião, só não lutou pelos lugares cimeiros devido à onda de lesões. Cesário elegeu ainda o colega de equipa, Serginho, como o melhor do campeonato. 

  Como é que está a lidar com esta pandemia?
Estamos viver tempos diferentes, é um grande desafio para todos. Mas também não tenho dúvidas que iremos ultrapassar com distinção estas adversidades. No meu caso, desde cedo tive noção que esta situação ia ser grave, talvez por ter familiares médicos que me alertaram para o perigo que se avizinhava. Como sou professor de Educação Física estou em casa confinado desde o dia 13 de Março, quando as escolas fecharam.

O plantel do Joane encontra-se todo bem?
Quando chegou a informação oficial da AF Braga que o campeonato iria ser suspenso cancelamos logo os treinos, mas a equipa técnica liderada pelo mister Nélson Silva tem nos facultado treinos individuais para que dentro do possível consigamos manter activos dentro de casa, pois neste momento a nossa saúde, e de quem nos rodeia, deve estar sempre em primeiro lugar. Utilizamos também um grupo numa rede social, que criamos no início da época, em que estão presentes todos os jogadores do plantel, fisioterapeuta, director desportivo e equipa técnica. Até ao momento encontram-se todos bem.

E você está a trabalhar ou em quarentena?
Como já referi anteriormente eu sou professor de Educação Física Desportiva e desde que as escolas encerraram que estou confinado em casa. Com o início do 3.º período, estamos a ponderar começar a trabalhar desde casa, num processo que permite estabelecer dentro das limitações que existem, a relação aluno/professor, que nos permitirá fazer algum trabalho com os alunos.

  • «É muito difícil estar privado disso tudo»

Tem sido difícil este tempo sem futebol?
Para a grande parte dos jogadores de futebol dos campeonatos distritais o que nos move é a paixão que temos por este desporto. A primeira semana, depois da paragem, ainda não começamos a sentir a faltar, pois até sabe bem uma pausa. No meu caso que saía de casa às 7h00 e só regressava, nos dias de treino, às 21h30, foi como uma semana de descanso. No entanto, depois dessa semana já não queremos descansar mais, começa a faltar aquela adrenalina dos jogos, o cheiro da relva, as brincadeiras no balneário, as saudades dos nossos companheiros de equipa. É muito difícil estar privado disso tudo.

Este longo tempo de paragem pode prejudicar a planificação da próxima época?
O que pode prejudicar a planificação da próxima época é esta indefinição que existe sobre quando tudo voltará ao normal e quando é que será possível reabrir a “indústria”  do futebol. Temos o caso da China, que foi o primeiro país a sofrer com esta pandemia e já passaram cerca de cinco meses, e o futebol ainda não recomeçou. Falando mais em concreto do nosso futebol distrital/amador por muito que a paragem seja longa, com um ou um mês e meio, conseguimos pôr os jogadores com níveis físicos aceitáveis.

  • «Infelizmente algumas situações  impediram de lutar pelos primeiros lugares»

Que balanço faz da prestação do Joane no campeonato?
O GD Joane à 26.ª jornada encontrava-se no 6.º lugar, dentro do objectivo proposto para a época, que era ficar dentro dos seis primeiros. Claro que internamente, tanto com o mister Miguel Paredes como com o mister Nélson Silva, ambicionávamos discutir os primeiros lugares, mesmo sabendo que não tínhamos o orçamento de outros clubes, mas sabíamos da qualidade e da mentalidade do plantel, só que infelizmente algumas situações, como é o caso das muitas lesões, impediram de lutar por esses lugares.

E individualmente?
individualmente acabei por jogar praticamente todos os jogos e como já disse anteriormente penso que a equipa, tal como eu, podia ter feito um pouco mais, mas esta época não foi amiga do GD Joane

Concorda com a medida tomada pela FP Futebol e seguida da AF Braga? Ou na sua opinião dos campeonatos deveriam ser concluídos?
Esta é uma situação que vai dar que falar durante muito tempo, Uns dizem que é justo outros dizem que é injusto, mas a FP Futebol, na qual está inserida a AF Braga, têm estatutos e regulamentos que têm de ser cumpridos, quer agrade ou não.
Na minha opinião, para que a verdade desportiva existisse, os campeonatos deveriam realizar-se até à última jornada, caso as condições o permitissem. O futebol é fértil em surpresas e ninguém garante que enquanto fosse matematicamente possível o 2.º ou 3.º classificado não fosse capaz de chegar ao 1.º lugar e o mesmo no que diz respeito a quem está a lutar pela manutenção. Agora há equipas que saem mais prejudicadas do que outras.

Como fica o Joane nesta situação?
O GD Joane é a equipa do campeonato menos prejudicada e ao mesmo tempo menos beneficiada pois encontrava-se na 6.ª posição, longe dos lugares de subida, mas também a despromoção.

  • «Ainda vamos ouvir falar muito do Pedrinho»

Na sua opinião qual a melhor equipa do campeonato?
A do GD Joane da 10.ª jornada, em que perdemos 3-2 com o U. Torcatense. Fizemos um excelente jogo. Até à 16.ª Jornada estivemos muito bem, a partir daqui começamos a perder muitos jogadores.

 E o jogador?
O Serginho do GD Joane, se tiver cabeça no lugar ainda vamos ouvir falar muito dele.

Para ano mais uma época no Joane?
Vamos ver, já são quatro épocas aqui e não tenho razões de queixa, bem pelo contrário.  É um clube que oferece boas condições, com a maior massa adepta desta divisão e cumpridor com os jogadores. Mas para mim um factor também importante quando tomo a decisão de optar por um clube é sempre o projecto que nos apresentam e penso que o GD Joane tem de ser mais ambicioso, não basta dizer que quer lutar pelos primeiros lugares.

O futebol vai mudar depois desta pandemia?
A nível financeiro, os clubes vão passar outra vez por alguma falta de apoios, mas penso que seria também altura para mudar algumas mentalidades de quem manda e de quem anda ligado ao desporto, mais em concreto ao futebol. Muitas vezes, o mais importante é ganhar independentemente da forma como se chega a esse objectivo. Está na altura das pessoas ligadas ao futebol perceberem que o actor principal é o jogador e devem fazer tudo para que este seja o centro das atenções e o factor principal do “espetáculo”que é o futebol.