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Ainda dá para ser futebolista em Portugal?

Era uma vez o Joãozinho. O Joãozinho dizia desde pequenino que queria ser jogador de futebol, até que chegou o ano de 2020, o ano da Pandemia Covid 19, e o seu sonho foi suspenso por tempo indeterminado.

O pai do Joãozinho era mais um daqueles pais que não perdia um treino, não perdia um jogo, indignava-se com os árbitros, com os treinadores, coordenadores, pois o seu Joãozinho “é que era”, e tinha de vir a ser, custe o que custar.

Até que chegou a Pandemia e o pai do Joãozinho deixou de se importar. Agora está tudo bem, enquanto o Joãozinho estiver por casa, de manhã à noite, a jogar vídeo jogos já não se chateia, afinal, se calhar, até dá jeito não haver treinos e jogos, porquanto dá a sensação que o sonho do seu menino já não conta.

Hoje falei com o Joãozinho, que bem pode representar os mais de cem milhares de Joãzinhos, dos 5 aos 18 anos que estão por esse país, completamente parados, suspensos nos seus sonhos, e perguntei como estava a viver este momento.

“Sabes, estou muito triste, só queria jogar à bola. Há seis meses que a minha vida parou e não tenho nada para fazer; à seis meses que não jogo à bola, que não sonho, que não celebro golos, que não canto vitórias e que não choro derrotas.

A minha vida, a minha geração foi interrompida por uns senhores de Lisboa que colocam à frente a economia, as empresas, as festas dos partidos políticos, as touradas, o futebol de adultos, entre outros e não querem saber de nós.

Esqueceram-se que somos crianças e jovens que têm sonhos e que este tempo parado irá interromper e penalizar, em muitos casos, futuros e desenvolvimento de competências e até mesmo motivações.

Sabes, hoje vejo muitos amigos meus a perderem o sentido da prática desportiva e a deixar ganhar terreno o sedentarismo alheado aos meios tecnológicos, aos ajuntamentos para beber álcool, fumar cigarros e até mesmo uns charritos.

Ninguém nos pergunta nada e os nossos pais também não se mexem. Assistimos a manifestações do BES, do racismo e xenofobia, Politicas, do emprego, entre outras,  mas de nós que seremos o futuro deste pais ninguém nos houve e ninguém nos representa.

Temos 5, 7, 10, 14, 18 anos e não estamos na linha das prioridades dos de “Lisboa”. Estamos tristes, desmotivados e com medo do futuro, afinal só queríamos jogar à bola!

Depois de escutar o Joãozinho atentamente, senti que de facto esta geração será penalizada no seu futuro, pois as entidades competentes não se estão a empenhar, conforme deviam, na importância desta actividade que desempenham, que integra, forma, desenvolve competências sociais e cognitivas e muito, muito mais.

Qual será o parecer da Federação Portuguesa de Futebol e suas associações? Qual será o parecer da Secretaria de Estado do Desporto e Juventude sobre as preocupações do Joãozinho? Que pensam os Encarregados de Educação fazer? Os clubes, sim os clubes, que em muitos casos vivem e sobrevivem do processo formativo!  Qual a dimensão que tudo isto vai atingir? Vamos esperar mais? E depois como vamos compensar e recuperar esta geração suspensa?

Termino com estas questões, que todos podem fazer e encontrar respostas no sentido de que possa ser desenvolvida algum movimento para pelo menos os senhores de “Lisboa” se lembrarem que existem Joãozinhos com sonhos suspensos e com dúvidas se em Portugal ainda dará para ser futebolista.