A gratidão não se paga com títulos

A direção do Braga confirmou a saída do mister Carvalhal, alegando querer iniciar um novo ciclo para o projeto e a ambição do clube para os próximos anos.

É legítimo fazê-lo? É. Ninguém pode colocar a legitimidade de ter a ambição de lutar pelo título de campeão nacional. No entanto, o que se coloca em causa é a forma como o processo é liderado e o desprezo que, aparentemente, se tem por quem muito deu ao clube nos últimos anos.

Nas épocas que passou pelo Braga, o mister Carvalhal potenciou o Braga para outros patamares. Não só pela conquista da taça mas, mais do que isso, pela forma como o Braga praticava um futebol positivo e, principalmente, pela forte aposta na formação. Foram mais de 20 os jovens que Carvalhal lançou para patamares superiores e, em alguns casos, para o futebol europeu.

Olhando para a época que terminou, Carvalhal chegou com o comboio em andamento e com várias lacunas a resolver.

Um dos grandes problemas foi a nível defensivo. Os centrais não ofereciam consistência, cometiam erros primários e comprometedores. Juntemos a isso todas as lesões que obrigaram a refazer a estratégia.

Há um fator que considero determinante para a boa segunda volta que o Braga fez no campeonato. Em janeiro, Carvalhal fez uma limpeza no plantel e colocou fim a egos que se faziam notar para o exterior e no desempenho da equipa.

Recorrendo à formação, o mister soube retirar o melhor dos jovens, nomeadamente de Chissumba que se afirmou logo. Patrão é outro dos nomes, pese embora fruto da ausência de opções. É um jogador que pode dar muito ao Braga nas próximas épocas. Precisa de alguma cautela e ser gerido com pinças, tal como foi feito com Hornicek.

Findada a época, o Braga ficou no seu habitual 4º lugar. Fica a sensação de que podia ter feito mais. É verdade. Contudo, isso não retira o bom trabalho desenvolvido por Carvalhal. A segunda volta fala por si.

A direção optou por não manter o mister para a próxima época. Considero isso legítimo mas, ao mesmo tempo, também um erro e de uma grotesca falta de confiança e de uma enorme ingratidão para com o mister Carvalhal.

O Braga se quer ser campeão precisa de ter bases sólidas. Mais do que isso, precisa de saber que rumo quer percorrer até alcançar o título.

Não é com sistemáticas mudanças de treinador que se consegue estabilidade e formar bases sólidas que permitam ao Braga ir mais longe.

Se as coisas correrem mal com o novo treinador escolhido, vão chamar o bombeiro do costume para vir apagar os incêndios e resgatar a tropa?

Daqui a 6 meses, Salvador vai voltar a chamar Carvalhal para liderar a equipa?

Se o fizer, é de uma enorme falta de respeito e de falta de vergonha.

Achar que Carvalhal não tem capacidade para dar mais ao Braga, mas chamá-lo para pagar fogos, é o mesmo que dizer que o mister é limitado. Isso não condiz com aquilo que Carvalhal tem dado e escrito na história do Braga.

Nos últimos anos, o Braga parece que não tem uma estratégia e um rumo.

Enquanto o Braga não tiver um rumo e o fio condutor não vai mais longe.

 

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