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O jogo das crianças vs o “jogo” dos adultos

Sábado de manhã, 7h30, toca o despertador e lá vou eu, enquanto pai levar o meu “aspirante” a jogador a mais um jogo de fim-de-semana. Sinceramente, não estava à espera de assistir a “dois jogos” em simultâneo; de um lado o jogo que estava à espera, de 9X9 crianças de 12 a 13 anos, a divertirem-se na competição, e do outro, a decorrer ao mesmo tempo, o jogo dos adultos envolvidos – encarregados de educação, treinadores e equipa de arbitragem – num jogo sem bola e de constantes atropelos aos Valores da Ética no Desporto. Em boa verdade, o jogo dos que deviam dar o exemplo, contaminou o jogo daqueles que apenas se queriam divertir.

Encarregados de educação em constante troca de provocações, discussão provocatória de pontos e tabelas classificativas das equipas envolvidas; treinadores envolvidos em troca de verbalizações de ironias provocatórias, constante pressão levada a cabo por treinadores e pais sobre os árbitros no sentido de condicionar decisões, e o mais dramático, porque vi, claramente visto, o árbitro talvez muito pressionado pelo ambiente “exterior” ao jogo, a perder o controlo emocional e a reagir com um apertão de pescoço de uma criança de 12 anos, após este lhe ter dirigido um impropério.

Esta é então, a leitura que faço do “jogo dos adultos”, o qual transportou para dentro do campo do jogo das crianças um crescendo de agressividade negativa, stress, e em muitos casos, comportamentos e atitudes menos corretas.

Ninguém está inocente em tudo aquilo que se passou, uns mais que outros, claro está, resultando o atropelo aos Valores da Ética no Desporto, sendo as crianças as principais vítimas.

A ética no deporto defende que através da prática desportiva se podem trabalhar e interiorizar princípios e valores que devidamente enquadrados ajudam a construir o nosso caráter, a nossa personalidade e que são extensíveis a todas as outras dimensões da vida, escola, trabalho, família e comunidade.

A ética diz-nos como nos devemos comportar para não prejudicarmos ou prejudicar os outros. A ética faz-nos pensar e diz-nos se estamos a agir bem ou mal, ou se os outros estão a agir bem ou mal. A ética representa a adequação do comportamento humano à vida em sociedade, manifestando-se através de valores norteados pela honestidade, a integridade e o respeito.

Não se “jogou bem” neste jogo do Campeonato Distrital de Infantis da AF Braga, pois o respeito por todos os agentes desportivos foi beliscado.

Protestou-se, colocou-se em causa as decisões dos árbitros, faltou, em momentos, respeito mútuo entre as equipas, entre pais adversários e faltou ponderação nas críticas.

Ganhar tanto pode ser uma honra como uma vergonha, em termos de código de comportamento que determinou esse facto. “Quando ganhar é tudo, fazemos tudo para ganhar” (Nicholas, 1989).

Deixo aqui as palavras do treinador Best Jurgen Klopp para todos os adultos presentes neste jogo refletirem: “Mister porque está sempre com um semblante sorridente, quer vença quer perca? Sabe, quando nasceu a minha filha, interiorizei que aquele momento é um momento de vida! Um jogo de futebol não é um caso de vida ou morte, é apenas um jogo e deixem as crianças divertirem-se no jogo!”.