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Futebol de formação. Quem se lixa é… o treinador

Escrevo esta crónica como livre pensador do fenómeno desportivo, sem esquecer em momento algum que sou diretor de uma Entidade Formativa e por isso mesmo tenho responsabilidades e a elas não me furto nunca.

Com esta crise provocada pela pandemia são raros os clubes que vivem em desafogo económico, capazes de terminar os anos com o mínimo prejuízo,  por via disso acentuam-se as incertezas relativamente às próximas épocas.

Por isso, convém que quando discutimos formação não sejamos hipócritas e chamemos as coisas pelos seus nomes.

Comecemos pelo que a Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto preconiza e define, nomeadamente no artigo 46:

«Os apoios ou comparticipações financeiras concedidas pelo Estado, pelas Regiões Autónomas e pelas autarquias locais, na área do desporto, são tituladas por contratos-programa de desenvolvimento desportivo, nos termos da lei». Sujeitas à devida fiscalização.

Significa isto, que os clubes não profissionais recebem apoios com vista à promoção do desenvolvimento desportivo, enquadrando-se aqui como critério o número de praticantes, o alcance social, entre outras coisas.

A formação é assim o indexante dos subsídios, mas pergunto eu: Quantos são os clubes que na sua gestão separam a formação das equipas seniores e cumprem rigorosamente os orçamentos?

Quantos são os clubes que por via das mensalidades pagas pelos atletas não vão tapando buracos aqui e acolá e depois se não houver dinheiro para pagar as subvenções aos técnicos, logo se vê? Arrisco-me a dizer que são muitos mais que aquilo que muitos querem fazer parecer.

Não sendo nestes aspectos que quero centrar a minha atenção, não os posso deixar de sublinhar, pois eles são o pano de fundo da questão central que quero fazer enfoque.

E a questão que me preocupa neste momento é que em todo este cenário de crise quem parece que vai levar por tabela uma vez mais vai ser o treinador de formação.

Os treinadores recebem na sua generalidade subvenções baixas, espécie de ajudas de custo para um trabalho abnegado, que não tem horas certas, em prejuízo da sua vida familiar, com fins de semana comprometidos e custos de deslocação a saírem dos seus bolsos.

Há muito que venho falando da necessidade desta função ser olhada com o respeito que merece, até porque muitos destes técnicos depositaram tempo e dinheiro na sua própria formação, gerem constantes conflitos, são pedagogos e referentes educacionais.

Bem sei que também há ainda gente mal formada a desempenhar as funções, mas são, felizmente, cada vez menos.

Por outro lado, com as exigências decorrentes das certificações, os clubes procuram técnicos com formação específica que lhes garantam pontos preciosos para a obtenção de estrelas, sendo por isso cada vez mais difícil encontrar no decorrer das épocas, pela saída de algum elemento, técnicos competentes para os lugares.

Por este conjunto de razões, não posso aceitar que os clubes, mesmo num cenário de crise económica, decidam baixar as subvenções aos técnicos.

É uma imoralidade.

Não é por menos 20 ou 30 euros que os técnicos ficam indignados, uma vez que (e até nem devia ser assim) desempenham quase sempre as suas funções por amor ao jogo e aos miúdos, mas porque da parte de quem os contrata não vêm reconhecimento ao seu esforço.

Temo que aqueles clubes que enveredarem por esta política vejam fugir os técnicos para outros emblemas. Para aqueles que reconheçam o seu valor e lhes paguem mais justas subvenções.

Nessa altura, ficará claro quais são aqueles que têm projetos sérios e de qualidade e quais os que andam a brincar com o esforço de técnicos, pais e atletas.

Estarei nesse dia certamente cá para dar nomes às coisas e coisas aos nomes.