Ao longo dos últimos anos, o futebol de formação tem sofrido várias mudanças.
O paradigma e as novas exigências obrigam a quem lida diretamente com os diversos departamentos a fazer uma avaliação e a adaptarem as metodologias.
Um dos aspetos para os quais se deve olhar de forma mais específica é sobre o papel dos pais no processo de formação dos atletas.
Os pais podem ter um papel determinante no desenvolvimento do atleta, quer a nível humano, quer no comportamento e compromisso no treino e nas competições. O que se verifica muitas vezes é um afastamento dos pais no decurso do processo de formação dos jovens.
Os organismos devem promover ações de formação que ajudem os pais e encarregados de educação a perceber as várias etapas de formação do atleta, o que se espera no desenvolvimento do atleta e de que forma os pais e encarregados de educação podem intervir nas várias etapas da formação.
Olhar para a formação é também ter uma visão estrutural a médio e longo prazo.
Nem sempre os clubes têm capacidade e coragem de tomar medidas e fazer um planeamento com uma visão a médio e longo prazo para um projeto que consolide a formação para que dê frutos no futuro.
É com alguma preocupação que olho para alguns casos em que se pretende abdicar da formação para única e exclusivamente, se olhar para os seniores.
Quem gere os clubes deve perceber que a formação é parte importante no caminho de sucesso e, mais do que isso, da sustentabilidade dos clubes.
Nas últimas épocas têm sido tomadas medidas que, a meu ver, não beneficiam a exigência e o processo de formação dos atletas.
A Associação de Futebol de Braga acabou com o limite de substituições nos escalões de formação.
Se a ideia é dar mais tempo de jogo aos atletas e que, acima de tudo, se promova uma maior formação em campo dos atletas, a mesma medida não faz sentido em escalões como juvenis e juniores.
Nos iniciados é aceitável que a mudança seja feita de forma gradual. É o primeiro ano em futebol 11 e com novas regras como o limite de jogadores inscritos por jogo e o limite de 3 tempos de substituições. Alguns dos atletas saltam diretamente do futebol 7 para o futebol 11.
É necessário criar bases e dar tempo de adaptação para os atletas entenderem as diferenças entre o futebol 7 e o futebol 11. Nesse sentido, compreende-se que haja essa abertura para não limitar o número de substituições, mas que se mantenha os 3 tempos para as fazer assim como o limite de jogadores inscritos para cada jogo.
Nos escalões de juvenis e juniores essa medida não se justifica e é descabida. Nestes dois escalões, os atletas já têm noção da realidade do futebol 11 e a competição é diferente e mais exigente. Por isso, é desejável que as medidas sejam também proporcionais aos escalões.
Se realmente queremos formar mais e melhores atletas temos de passar uma mensagem de conforto, mas, mais do que isso, de exigência e de compromisso.
Sabemos que cabe aos treinadores incutir o sentido de responsabilidade, entrega, compromisso e a capacidade de desenvolvimento pessoal e coletivo. No entanto, estas medidas passam uma mensagem contrária e, por outro lado, criará mais um conflito entre os treinadores e os pais dos atletas.
Convém perceber que os pais querem sempre que o seu filho jogue, independentemente de ter ou não qualidade. Também é verdade que há pais e familiares que são conflituosos quando os filhos e familiares não jogam. Esta medida servirá como mais uma arma para os pais e familiares usarem contra as equipas técnicas.
Penso que a AF Braga tem coisas mais prioritárias com as quais se deve preocupar e olhar seriamente para promover uma melhor verdade desportiva. Uma das coisas que considero importante rever é a permissão de jogadores inscritos nas equipas A poderem jogar nas equipas B.
Só para se ter a noção, um clube pode ter 2 equipas inscritas no mesmo escalão em séries diferentes. O que acontece é que quando a equipa B precisa de pontos, os treinadores podem usar os jogadores da equipa A que, por norma, têm melhor qualidade e/ou jogam em divisões acima. Isso desvirtua a competição e não beneficia a verdade desportiva.
É possível combater isso? Claro que é! Tem é de haver vontade e coragem! Se for obrigatório inscrever os dois plantéis e impedir que os jogadores possam jogar pela outra equipa, a competição terá mais seriedade e verdade. É fácil de fiscalizar isso. Os clubes inscrevem os plantéis de ambas as equipas.
Da mesma forma que se verificam os castigos e irregularidades em cada jornada, também é possível fiscalizar se jogadores da equipa A jogaram pela equipa B. Se essa situação acontecer, os clubes devem ser alvo de sanções exemplares.
Por último, mas não menos importante, é fundamental a promoção de mais e melhores formações para dirigentes, treinadores e árbitros. Muitas vezes não se verifica uma boa qualidade e formação dos vários intervenientes desportivos. Não podemos só exigir mais dos treinadores, dirigentes e árbitros. É preciso dar ferramentas para que essa exigência seja acompanhada de uma formação contínua e de qualidade ajustada às várias realidades.